quarta-feira, 25 de março de 2015

Os poetas também se comem, mesmo os indigestos

li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
Os jornais estão cheios de notícias sobre a morte do Poeta Herberto. Eu até nem costumo ler poesias (sou mais de ler ementas e as críticas no Trip Advisor), mas deste até tinha comprado, no ano passado, dez exemplares de um livro muito jeitoso, que o senhor Adérito, daquela Livraria na Baixa, me reservou. E, lembrei-me agora, também houve um namorado que me ofereceu, num Natal qualquer, outro livro, chamado A faca não corta o fogo, porque pensava que era sobre culinária.
Pois é desse livro que retirei os versinhos que acompanham esta minha homenagem. São palavras sobre os gregos, a morte e a paixão - e sobre comidinha, claro.
¿ e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável,
apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a paixão e eu me perdesse nela,
a paixão grega

Sem comentários:

Enviar um comentário